A Carochinha


História do Dia - António Torrado


 Aqui podes ler e ouvir todos os dias uma história nova.

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A Gata Borralheira




       Há muito tempo, numa cidade longínqua, vivia um casal que só tinha uma filha, mas muito bonita e muito boa. Num inverno rigoroso a mãe morreu e, desde aquele dia, a vida da menina tornou-se muito triste; além disso, estava quase sempre sozinha, pois o pai era um comerciante rico muitas vezes ausente em viagem por países distantes.
- Sei que estás muito desolada e triste, mas não te preocupes, porque em breve vais ter quem te console e acompanhe - disse-lhe um dia o pai.
Com efeito o comerciante casou de novo, mas agora com uma viúva muito antipática que já tinha duas filhas muito feias e com um coração tão mau como o da mãe.
Aquela mulher sentiu logo uma grande inveja, porque as suas meninas não eram nem tão bonitas nem tão boas e prendadas como a enteada, e por isso as três costumavam maltratá-la, aproveitando o facto de o pai estar ausente.
- Porque é que tens tanta cinza no vestido? Estás tão suja! Vamos chamar-te Gata Borralheira, que é um nome que te assenta muito bem! - Disseram-lhe uma tarde as três, rindo-se muito.
Um dia o pregoeiro do Rei anunciou que o Príncipe completara dezoito anos e que o Monarca, para o celebrar, convidava para um baile no Palácio todas as filhas solteiras das famílias nobres e ricas. A madrasta chamou a Gata Borralheira e disse-lhe:
- Vais engomar os vestidos das minhas filhas e limpar-lhes os sapatos, mas tu não vais a esse baile!
Quando a madrasta e as filhas saíram para o Palácio, a Gata Borralheira escondeu-se num canto e começou a chorar amargamente. Era ela que tinha de fazer todos os trabalhos da casa e obrigavam-na a dormir junto da lareira.
De repente uma luz azul encheu a cozinha e a Gata Borralheira viu uma mulher lindíssima e resplandecente.
- Eu sou a tua Fada Madrinha e venho consolar-te, porque tens continuado a ser boa apesar dos sofrimentos. Pede-me o que quiseres, que eu concedo-to.
A Gata Borralheira pensava que estava a sonhar. A Fada, que sabia tudo, disse:
- Gostavas de ir ao baile do Palácio? - Sim, sim...isso é o que eu mais desejo neste mundo! -respondeu a jovem.
Então a Madrinha mandou-a trazer do jardim uma grande cabaça, seis ratos, uma rata e seis lagartixas, que se deixaram apanhar porque era a Fada que mandava. Depois transformou tudo com a sua varinha mágica: a cabaça converteu-se na carruagem mais luxuosa jamais vista; os ratos, em seis cavalos brancos; a rata, num cocheiro todo empertigado e as lagartixas em seis criados com uniformes muito vistosos. A Fada tocou depois com a varinha no vestido sujo da Gata Borralheira e ela ficou adornada com o vestido comprido mais maravilhoso que uma costureira poderia alguma vez imaginar. Por último a varinha pousou nas suas pobres sandálias, que se tornaram em dois sapatinhos de cristal de rara beleza.
- Á meia-noite em ponto terminará o feitiço e tudo será como antes -disse-lhe a Fada ao despedir-se dela.
Quando a Gata Borralheira entrou no salão de baile todos a admiraram pensando que era uma Princesa, e o Príncipe, apaixonado, convidou-a para dançar. Ao vê-los juntos o rei comentou:
-Nunca vi uma jovem tão elegante e tão bonita. Espero que o meu filho se dê conta disso.
O Príncipe não deixou de dançar com ela um só momento. Mas as horas felizes passam muito depressa e as badaladas do relógio do Palácio despertaram a Gata Borralheira daquele sonho maravilhoso: estava a bater a meia-noite! Deixou o Príncipe e correu pelos jardins, tão depressa que perdeu um sapato na escadaria. Quando soou a última badalada o feitiço desapareceu. O Príncipe correu atrás dela, mas só viu uma jovem pobremente vestida a afastar-se. Foi então que encontrou o sapato e guardou-o perto do coração.
-A dona deste sapato de cristal é também a dona do meu coração! -disse o Príncipe ao pai.
- Quero que procurem essa jovem por todo o reino! -ordenou o Rei.
Os emissários reais foram experimentando o sapato a todas as donzelas. E, quando chegou a vez delas, as meias-irmâs da Gata Borralheira fizeram esforços enormes para poderem meter nele os seus grandes pés, mas tudo foi inútil.
- Agora gostava eu de o experimentar! -pediu a Gata Borralheira.
- Tu não vais experimentar NADA! -gritou-lhe a madrasta com desprezo.
- Claro que o vai experimentar, minha senhora -exclamou o emissário real. - O Rei ordenou que todas o experimentassem, e todas significa todas.
O pé da Gata Borralheira entrou perfeitamente no sapato de cristal, que parecia feito à sua medida, e a madrasta e as filhas choraram de desespero.
Pouco tempo depois a Gata Borralheira e o Príncipe casaram. Nunca houve um casamento tão magnífico! E os apaixonados viveram felizes, durante muitos e muitos anos.

Para crianças com mais de 6 anos.

Aqui ficam algumas sugestões de livros adequados à tua idade.

  • Histórias a rimar para ler a brincar;
  • O canteiro dos livros;
  • A lesma constipada;
  • O rabo do esquilo;
  • Gisela amarela;
  • Guilherme, o Tagarela, e as suas amigas

Os Três Porquinhos


 

     Era uma vez três porquinhos. Eles eram alegres. O mais novo adorava brincar, o segundo era músico e o mais velho era muito trabalhador.
Um dia, percebendo que o dono da fazenda iria vender seus filhotes, a dona Porca juntou suas economias, dividiu-as entre os três porquinhos e os aconselhou a ir morar longe da fazenda.
O porquinho mais novo comprou palha e construiu sua casinha. A palha era muito barata e ele poderia comprar muitos brinquedos com o que sobrasse do dinheiro.
O segundo porquinho resolveu construir uma casinha de madeira, porque era mais rápido de construir e ele logo poderia voltar a dedicar-se às suas músicas. Desta forma, ele passava os dias tocando e cantando.
O terceiro porquinho, que era muito esperto e trabalhador, fez sua casinha de tijolos. Ele gastou todo o seu dinheirinho, mas construiu uma casa resistente e muito bonita.
Algum tempo depois, um lobo muito malvado se mudou para aquela região.
Quando ele soube que a li moravam três porquinhos, resolveu procurá-los.
O lobo já estava cansado de comer frutinhas da floresta. Ele queria achar as casas dos porquinhos, porque queria comer leitão assado.
Ele procurou e achou a casinha de palha. Bateu na porta:
      – Abra esta porta senão derrubo sua casa.
Como o porquinho não abriu, o lobo estufou o peito e soprou. A casinha foi para os ares.
O porquinho saiu correndo pela floresta e foi se esconder na casinha de madeira de seu irmão. O lobo foi correndo atras dele.
Chegando na casinha de madeira, o lobo novamente pediu que abrissem a porta:
      – Abra esta porta senão derrubo sua casa.
Como os porquinhos não fizeram isso, ele soprou com força e derrubou a casinha.
Os porquinhos correram para a casa de tijolos e, quando chegaram, contaram tudo para o irmão. Como este era muito esperto, trancou todas as portas e janelas e colocou um caldeirão de água a ferver na lareira.
O lobo chegou até a casinha minutos depois. Bateu na porta e como ninguém respondeu, ele estufou o peito e soprou. A casinha continuou como estava. O lobo continuou soprando até cair exausto no chão.
Descansou um pouco e ficou pensando como faria para entrar. Tentou derrubar a porta, mas esta estava muito bem trancada. Forçou as janelas e também não conseguiu abrir.
O lobo estava ficando furioso, quando teve uma ideia!
       – Vou descer pela chaminé — pensou ele, já sentindo o gostinho da vitória.
Subiu no telhado e foi descendo pela chaminé.
Quando estava caindo, começou a sentir um calor muito grande até cair dentro do caldeirão de água fervendo. Ele saiu correndo, todo queimado pela água quente.
O lobo ficou com tanta vergonha, que se mudou para um lugar muito distante, e nunca mais se teve notícias dele.
Os três irmãozinhos decidiram morar juntos na mesma casinha de tijolos. Mais tarde, buscaram sua mãe para viver com eles e foram felizes para sempre.

O Capuchinho Vermelho





              Era uma vez uma linda menina que vivia numa aldeia do bosque e de quem todos gostavam muito por ser muito boa e simpática.
Um dia a mãe fez-lhe um capucho vermelho para ela levar para a escola. No trajecto e como era hábito, a menina cumprimentava os animaizinhos, pois conhecia-os e era amiga de todos. Ao vê-la tão bonita com o seu novo capucho eles começaram a tratá-la por Capuchinho Vermelho.
Um dia a mãe chamou-a e disse-lhe:
            - Tens aqui uma cesta com bolos e um pote de mel para levares à avozinha que não anda muito bem de saúde. Toma cuidado: não te detenhas no caminho e não fales com desconhecidos.
           - Podes ficar descansada, mãezinha, farei como dizes - prometeu Capuchinho Vermelho.
Ia ela muito contente quando, a certa altura, encontrou um lobo. Este, com uma voz muito melada, disse-lhe:
           - Olá, bela Capuchinho! Nem imaginas como desejava conhecer-te.
A menina ao ouvir isto ficou muito surpreendida, pois   achou que o lobo não era tão feroz como toda a gente dizia. Apesar disso respondeu-lhe:
          - O senhor lobo desculpe-me mas a minha mãe proibiu-me de falar com desconhecidos.
          - Desconhecido, eu? Sou a mais popular de todas as criaturas do bosque,  não deves fazer caso do que dizem. Isso é treta das más-línguas. Onde vais com essa cesta?
        - Vou ver a minha avozinha que está doente e levar-lhe bolos e um pote de   mel.
        - E onde vive a tua avozinha?
        - Vive para lá do moinho, numa casa à beira do lago, junto a uma grande árvore.
O lobo já com água na boca pensou:
       - Que maravilha de petiscos, devem ser tão bons, tenho que me apoderar de ambas. Acompanhou Capuchinho e a certa altura disse-lhe:
       - Penso que também eu deveria visitar a tua avozinha, uma vez que ela está tão adoentada, não te parece?
      - Sim, sim, acho que ela ficaria muito contente.
      - Olha, tu vais por este caminho e eu vou por aquele. Veremos quem chega primeiro, - disse-lhe o lobo.
     - Como eu sou esperto e como foi fácil convencê-la, pensou o lobo, ela vai pelo caminho mais distante e assim eu terei tempo de chegar antes.
O lobo correu então em direção à casa da avó de Capuchinho Vermelho. Uma vez lá chegado bateu à porta e a avozinha perguntou:
     - Quem é?
     - É o Capuchinho Vermelho, respondeu-lhe o lobo, trago-lhe bolos e um pote de mel; abra a porta por favor.
    - Entra, minha netinha, a porta está só no trinco.
O lobo abriu a porta e sem dizer nada foi ao quarto da avozinha e comeu-a. A seguir vestiu as suas roupas, enfiou a touca, colocou no nariz os óculos da avozinha e meteu-se dentro da cama, cobrindo-se com uma manta.
Capuchinho, depois de muito caminhar, pois viera pelo caminho mais longo, chegou finalmente a casa da avó;  ficou muito surpreendida por encontrar a porta aberta.
     - Bom dia. Está alguém em casa? - perguntou ao entrar.
Como ninguém lhe respondeu, dirigiu-se ao quarto e aproximando-se da cama, não reconheceu o lobo, pois ele estava disfarçado com as roupas da avozinha. Notou contudo  que havia algo diferente e disse:
      - Avozinha estás com umas orelhas tão grandes!
      - São para te ouvir melhor.
      - E tens uns olhos tão grandes!
      - São para te ver melhor.
      - E os teus braços são tão grandes!
      - São para te abraçar melhor.
      - E tens uma boca tão grande!
      - É para te comer.
E nisto o lobo saltou da cama e engoliu a pobre Capuchinho Vermelho, que nem teve tempo de ter medo. Voltou depois a deitar-se e adormeceu profundamente, ressonando muito alto.
Um caçador que por ali passava, ao ouvir todo aquele barulho, pensou:
      - Esta velhinha não ressonava desta maneira! Vou mas é ver o que se passa.
Entrou no quarto e deparou com o lobo a dormir profundamente.
      - Até que enfim que te encontrei. Procuro-te à tanto tempo!
E quando ia a pegar na arma lembrou-se que o malvado podia ter comido a avó e que talvez ainda a pudesse salvar. Pegou na faca e... zás, abriu-lhe a barriga e de lá saiu Capuchinho Vermelho. Logo a seguir saiu a avozinha, ainda com vida mas respirando com muita dificuldade.
Depois de contarem ao caçador o que se tinha passado, Capuchinho saiu a correr e foi apanhar pedras, encheu com elas a barriga do lobo e a avó coseu a pele.
O lobo, quando acordou e viu o caçador, que disparou para o chão, fugiu a correr em direção ao lago, e quando se atirou à água para fugir a nado, com o peso das pedras foi parar ao fundo e afogou-se, com o que até nada se perdeu, pois ele era um lobo mau a valer.
Então a avozinha disse para a Capuchinho:
      - Vai à dispensa e arranja alguma coisa para o lanche do nosso salvador.
Depois de ter comido, o caçador disse:
       - Vamos, Capuchinho, vou acompanhar-te a casa, não vá andar por aí outro lobo malvado.
Ao chegaram a casa, Capuchinho Vermelho contou à mãe todas as peripécias que lhe tinham acontecido, pedindo-lhe desculpa por ter desobedecido às suas recomendações e prometendo nunca mais o voltar a fazer.